Segundas escolhas


Olho em volta e assisto a um fenómeno recorrente: pessoas solteiras ou divorciadas
‘encaixam’ com a primeira pessoa que aparece, desde que esta se 
mostre disponível para se dedicar a elas.
É uma espécie de jogo das cadeiras, a ver quem é que se aguenta mais tempo sem ficar de fora. Hoje em dia, estar só, no sentido de não ter uma relação amorosa, é como se uma
pessoa tivesse perdido a sensibilidade nos dedos de uma mão por causa de um desastre de carro ou a Natureza a tivesse privado de três quartos da audição.
Não ter alguém acaba por funcionar como uma espécie de estigma de solidão e de abandono, qual carta transviada de um baralho extinto.  
E, com o tempo, quase se assemelha a uma doença crónica
Finalmente, quando alguém aparece, amigos e família rejubilam porque ter alguém representa uma conquista, uma vitória, um troféu que se exibe em reuniões familiares e eventos sociais.

É CLARO que é óptimo ter alguém, mas não por estes motivos. 
Não há nada melhor do que acordar todos os dias de manhã, olhar para quem ainda dorme na almofada ao lado e sentir aquele conforto de sabermos que amamos alguém que também nos ama.

É preciso que esse alguém seja quase tudo na nossa vida e não apenas uma presença passageira que nos distrai mas não nos alimenta, como uma comédia romântica ou uma casa de Verão alugada ao ano.
É preciso que o conforto e o prazer se misturem nas doses certas: só prazer, cansa. Só conforto, entedia.
AS SEGUNDAS escolhas podem trazer-nos a ilusão da segurança, 
mas se o coração, a cabeça e o estômago não estão lá por inteiro, mais tarde ou mais cedo, a miragem ganhará contornos daquilo que é: a projecção torpe de uma quimera sonhada. 
E quem escolhe por defeito – por medo da solidão, por pensar que não merece melhor, porque não quer sentir-se a tal carta do baralho extinto –, mais cedo ou mais tarde, será obrigado a enfrentar os seus próprios fantasmas.
Não acredito em segundas escolhas, nem acredito que elas nos tragam a verdadeira paz. 
Uma paz conformada não resiste muito tempo ao desafio de uma nova guerra. 
E, para quem não sabe estar só, o melhor é ir aprendendo. 
Mais vale só do que acompanhado por um alguém qualquer que tanto podia estar ao nosso lado como ao lado de outro alguém.  
Refugo, só nas lojas de velharias. 

4 comentários

  1. Há pessoas que não procuram aquele alguém que as preenche em tudo, ou então contentam-se com metade do que poderiam ter...
    Mas eu não posso criticar, pois já mantive assim uma relação durante bastante tempo... porquê? Porque no início pensei que me preenchia em tudo, mas ao longo do tempo fui-me apercebendo que não era bem assim, muito longe disso! Mas deixei-me andar... até chegar ao limite!
    Agora estou bem... desta vez encontrei aquele que me completa em tudo... e é tão maravilhosoooo! :)
    Desejo que todos encontrem assim alguém e que sejam felizes!

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  2. Concordo plenamente ;)
    Muitas vezes as pessoas preferem estar mal acompanhadas do que sozinhas :P

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  3. Concordo plenamente contigo! Ás vezes surgem mesmo os casais mais estranhos do mundo! Não há mal nenhum em estar solteiro(a).

    xoxo F.

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  4. Concordo plenamente. Muitas vezes o que acontece quando as pessoas procuram ocupar o espaço vazio, o lugar vago é que continuam, mesmo assim, a sentir-se sós e abandonadas. Porque não amam ou gostam verdadeiramente da pessoa com quem estão!
    Ou isso ou passam o tempo a enganar-se a si proprio na esperança e com a ilusao de que aquilo(aquele) que lhes faz companhia um dia venha a tornar-se algo mais, um amor...

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