Os amores impossíveis são excelentes para aguçar o engenho e alimentar a veia literária,
mas de pouco servem para quem vive com os pés bem assentes no chão.
Porque é que nós, seres racionais e com as capacidades cognitivas acima das outras espécies, insistimos tantas e tantas vezes em repetir o mesmo erro? Porque é que somos tantas vezes bons conselheiros para os problemas alheios e tão pouco lúcidos quando somos obrigados a resolver os nossos? E porque é que até os ratos, quando são treinados para não repetir erros, conseguem adquirir mecanismos condicionados de defesa mais depressa do que nós?
De cada vez que uma pessoa se apaixona é como um conta-quilómetros que vai a zero: pensamos que o carro é novo, mas já não é. Pensamos que vamos começar de fresco, mas já demos muitas voltas à pista, queremos acreditar que vamos leves mas já trazemos bagagem, sentimos que desta vez vai ser tudo diferente, mas ao longo do tempo vamos percebendo que, afinal, é tudo mais ou menos parecido. Então, o que é que nos leva a querer acreditar outra vez, mais uma vez, desejando tantas vezes que seja esta a última vez que a sorte nos tenha finalmente trazido o porto de abrigo, a pessoa certa, a relação adequada, a vida que sempre desejámos?
É aqui que entra a capacidade de sonhar, de projectar de imaginar, de desejar. Amor e imaginação acabam muitas vezes por ser a mesma coisa. Um amor sem sonhos é um amor com medo, um amor triste e estéril que não pode dar frutos. Quem não sonha não pode amar.
Por isso é que o amor, quando é vivido em toda a sua plenitude no presente, também é projectado em toda a sua grandeza no futuro, enquanto se alimenta no dia a dia de pequenas recordações únicas de um passado recente, aquele património histórico que é só nosso e que é recordado vezes sem conta a dois ou narrado aos amigos como quem desfia uma história exemplar: «Lembras-te do dia em que nos conhecemos? Tu trazias vestido isto e eu aquilo, tu disseste assim, eu respondi assado, lembras-te do nosso primeiro abraço, fez-me sentir que tinha finalmente chegado a casa, a primeira vez que dormimos juntos, eu disse-te tal e tu respondeste que também, e depois a nossa vida mudou para sempre».
Todas as grandes histórias de amor deviam ser registadas num diário para que os casais não se esquecessem de tudo o que viveram. E se o diário for escrito a uma só voz, por uma só pena, então é porque é o diário de uma relação impossível pela qual não vale a pena nem sonhar, nem esperar, nem sofrer.
O equilíbrio entre viver com os pés assentes na terra sem nunca
deixar de olhar para o céu é um dos maiores desafios do amor.
Até porque, como escreveu Truman Capote, «é melhor olhar para o céu do que lá viver».
O amor pode ser muito bonito, mas é a paixão que mais cativa. Amar pode ser fantástico, mas até que ponto vale a pena sem paixão? Sem sentir as borboletas no estomago, sem saber que o sentimento é reciproco... é nessa fase que tudo é belo.
ResponderEliminarOs amores impossiveis... oh esses, podem ser os que mais sofrimento causam. Mas são os que mais coisas nos ensinam. Se tudo fosse fácil, não tinha nem metade da piada.
Por isso é que muitas vezes quando as coisas parecem ser certas, tudo é fácil, tudo é cor de rosa... tudo perde a piada.